quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Como lidar com o ciúme do filho pequeno ao engravidar

A gravidez para um casal é sempre um momento mágico, de muita alegria, mas, se o casal tem um filho pequeno, isso pode causar ciúmes e desconforto para o menor. Para lidar com isso da melhor maneira possível, a psicóloga Erika Vendramini aconselha a contar para o filho assim que souber da gravidez, para que o filho mais velho tenha tempo para assimilar e acostumar-se com a ideia de ter um irmãozinho. Além disso, a criança vai ficar segura por perceber que os pais não guardam segredos, e que ela está incluída em todos os planos da família. "Uma boa forma de contar é dizer que a família vai aumentar e que todos estão felizes com isso", explica a psicóloga.
Outro conselho é "apresentar" o bebê à criança mais velha desde o útero, mostrando desenhos adequados à idade dela sobre o desenvolvimento do bebê mês a mês, até o nascimento, mostrar o ultrassom e levá-la junto para que ela ouça o coração do bebê, além de explicar as mudanças físicas pelas quais a mamãe irá passar, como o crescimento da barriga e o cansaço. Explicar também como é a rotina de um bebê e os cuidados que ele exige também é fundamental, evitando comentários como "Você terá um amiguinho para brincar!", para que ela não se frustre com o tempo que terá que esperar até que isso realmente aconteça.
A psicóloga aconselha também que qualquer alteração na rotina da criança, como retirada de fraldas ou mamadeira, ida para a escolinha, troca do berço para a cama, entre outras, deve ser feita antes do nascimento ou bem depois, para que ela não associe as "perdas" com a chegada do irmão, que já é uma mudança grande na vida da criança. "Se eles tiverem que dormir no mesmo quarto, pode-se explicar que o bebê terá as mesmas necessidades que ela, como roupas, alimentação e lugar para dormir, por isso ela precisará dividir o quarto com o irmãozinho", diz Erika.
Para que ela não fique enciumada, lembre-se de não transformar o quarto dela num "quarto de bebê", mas sim num quarto adequado para crianças de ambas as idades, mantendo as coisas das quais ela precisa, acrescentando os objetos de necessidade do bebê e transformando o quarto num lugar ainda mais interessante para ela, seja com uma decoração escolhida por ela ou um móvel só dela, como uma escrivaninha, por exemplo.
Mas é claro que, mesmo tomando todos esses cuidados, o ciúme vai aparecer! No entanto, ele não é de todo mau. É nessa convivência com o outro, dividindo o espaço e a atenção, que a criança aprende a viver em sociedade e se desenvolve emocional e socialmente. Para que a criança não se sinta excluída, pode-se pedir que ela seja paciente quando te chamar enquanto você está ocupada, garantindo que dará atenção a ela depois. E realmente fazê-lo, separando um tempinho só pra ela, seja para ler um livro, brincar ou pegar no colo e dar um pouco de carinho.
Outro fato que pode causar ciúmes no filho mais velho é o fato do bebê ganhar muitos presentes ao nascer, e, nessa questão, o conselho da psicóloga é dar presentes ao mais velho também, explicando que vocês estão comemorando tanto a chegada do bebê como o fato de que agora ele passou para o "posto" de filho mais velho, então merece ser presenteado.
Uma prática comum das mães é deixar o primogênito cuidar do mais novo, acreditando que assim ele possa se sentir importante, deixando o ciúme de lado. Para Erika, essa atitude é válida, porém é necessário que isso seja prazeroso para o mais velho, e não que ele se sinta uma "babá miniatura". Para isso, não peça apenas para que ele pegue a fralda pra você. Permita, por exemplo, que ele lave os pezinhos do irmão na hora do banho, segure-o no colo com sua supervisão ou ajude a colocar uma roupinha, além de deixar que ele mate a curiosidade experimentando o shampoo do bebê ou brincando com uma fralda. E lembre-se de agradecê-lo pela ajuda, sempre!
Elogiar o filho mais velho também é importante, pois eleva a autoestima da criança. Falar que ele é mais esperto, porque sabe falar, andar e brincar, é aconselhável, pois isso potencializa suas qualidades e as vantagens de ser o mais velho, e isso não significa diminuir o mais novo, apenas elogiar tudo o que ele é e faz de bom, como o fato de ser carinhoso, de poder te ajudar, de saber pedir o que quer em vez de chorar, etc. Mostre também para o mais velho atividades que você faz só com ele, como ler um livrinho ou tomar um sorvete. "Quando a criança se sente segura do amor e da atenção dos pais, o ciúme diminui e a aceitação do irmãozinho fica mais natural", diz Erika.
A psicóloga explica que as demonstrações de ciúmes podem variar. Algumas crianças ficam desobedientes e fazem birra, outras se tornam agressivas com os pais ou com o bebê, e outras ainda regridem no comportamento, voltando a fazer xixi na calça ou falando como bebê. Nessa hora o diálogo é a melhor opção. Comece explicando ao seu filho que o que ele está sentindo é ciúme, que esse sentimento é normal e significa que ele está querendo algo que o irmãozinho está recebendo. Explique também que o bebê tem necessidades diferentes das dele, inclusive de tempo e de atenção, mas que ele pode dizer o que está sentindo para que você possa ajudá-lo. Ensine-o a dizer: "Estou com ciúme!" ou "Mamãe, presta atenção em mim!" ou "Me dá um pouco de colo também!", sem ridicularizá-lo nem dizer que esse sentimento é feio, e satisfaça a necessidade dele. Demonstrar interesse pelas necessidades e sentimentos da criança é a melhor maneira de fazer com que ela se sinta amada e respeitada.

Como lidar com o estresse de final de ano

O final do ano chegou, período de muitas festas, mas também de muito estresse. A psicóloga Erika Vendramini Moreira cita pesquisas que indicam que o estresse do brasileiro aumenta cerca de 75% em dezembro e muitas pessoas, inclusive, apresentam sintomas físicos e emocionais, como pressa excessiva, ansiedade, irritação, melancolia, sentimentos de vazio, esgotamento físico e mental e até depressão.
 
Os motivos são os mais variados e não atingem só os adultos. As crianças e adolescentes costumam ficar sobrecarregados por causa das provas escolares, notas, recuperações e vestibular. "Já os adultos em geral estão sobrecarregados com o trabalho, afinal é bem sabido que para gozarmos de alguns poucos dias de férias costuma ser necessário trabalhar dobrado antes", explica Erika.
 
E a loucura de dezembro só vai aumentando: lista de presentes, preparativos para festas, viagem em família, lojas com muita gente, compras desenfreadas, confraternizações e encontros obrigatórios e muitas vezes indesejados. "Adoramos a festa, a comemoração, esperamos ansiosamente pelo final do ano. Mas, quando ele chega, a maioria das pessoas não vê a hora que acabe para voltar à velha e segura rotina", diz ela.
 
Segundo Erika, pessoas que sofrem de depressão tendem a ter recaídas nesta época. Isso ocorre porque, com as emoções à flor da pele, muitos se entristecem pela lembrança dos que já partiram, e apegam-se às perdas e frustrações: "O Natal já não é como antes", "Este é o primeiro Natal sem minha avó" ou "Mais um ano e eu continuo na mesma".
 
"Para piorar existe certa cobrança, uma obrigação moral, de viajar para um lugar superlegal, de passar o Natal com a família embaixo de uma árvore repleta de presentes, de mesa farta e, acima de tudo, de estar plenamente feliz. No entanto, essa expectativa é irreal, o que causa frustração", exemplifica a psicóloga.
 
E as famosas listinhas de "resoluções para o Ano Novo"? Elas são bem comuns nesta época, mas geralmente são decisões com um grau de dificuldade elevado e que requerem um empenho grandioso para que sejam atendidas. A psicóloga cita alguns exemplos: promete-se parar de fumar, emagrecer, parar de brigar com filhos e maridos, tratar bem a sogra, conquistar uma promoção no trabalho, fazer um curso que sempre quis, comprar uma casa ou carro, enfim, são conquistas grandiosas. "Porém, devido às próprias dificuldades implícitas nesses objetivos, a maioria deles é abandonada no meio do caminho", diz Erika. Além disso, com o passar dos meses, a vida vai modificando-se de maneira inesperada. Uma doença, um acidente, uma mudança de emprego ou de cidade, a falta de tempo ou simplesmente uma mudança de perspectivas ou de valores, tudo isso acaba por modificar os planos e direcionar a motivação daquela pessoa para outras conquistas. "Se você conseguiu uma promoção no trabalho, talvez aquele curso que planejou no final do ano não seja mais tão importante. Se planejou uma viagem para o próximo verão, talvez o roteiro tenha que ser alterado se você engravidar, sem planejar, no começo do ano", diz Erika.
 
Deixar de cumprir tais promessas nem sempre é sinal de falta de vontade ou empenho, nem deve ser encarado de maneira pessimista. Refletir, traçar novas metas, tomar uma "injeção de ânimo" é, sim, muito importante, uma vez que direciona nossa motivação, mas não se deve tornar uma tortura.
 
De acordo com a psicóloga, o final do ano é a época em que o consultório fica mais cheio. Algumas pessoas buscam a terapia correndo atrás do prejuízo, por exemplo, se o filho repetiu de ano e a mãe não sabe o que fazer, mas a maioria busca terapia porque chega ao final do ano com a sensação de que não fez nada, de que o ano não valeu a pena, de que muita coisa ficou para trás, e tudo isso porque não atingiu os objetivos esperados. "Essas pessoas sentem-se mal, diminuídas, desanimadas, e culpam-se por não estarem tão felizes quanto gostariam. Começam a rever, então, não apenas objetivos, mas posturas, comportamentos e valores, com o intuito de que o próximo ano seja diferente", diz ela.
 
E como lidar com o estresse desta época? A psicóloga dá algumas dicas:
 
- Sair do piloto automático. Não é porque todo mundo faz as mesmas coisas do mesmo jeito que você precisa repetir. Não se obrigue a participar de tudo e agradar todas as pessoas. Aprenda a dizer "não" aos excessos, às reuniões destituídas de carinho genuíno, às expectativas alheias, a tudo aquilo que não lhe fizer sentido.
 
- Antes de presentear os outros, presenteie a si mesmo. Compre algo que deseja há muito tempo, reserve um tempo para fazer aquilo que gosta, faça uma massagem relaxante, coloque-se em primeiro lugar!
 
- Não seja tão rigoroso consigo mesmo. Antes de se punir pelo que não conseguiu fazer durante o ano, liste todas as suas conquistas e parabenize a si mesmo!
 
- E lembre-se: se você não chegou ao lugar onde esperava ter chegado neste final de ano, não é sinal de que foi derrotado. Talvez seja necessário rever os objetivos, traçar metas mais realistas e encarar os tropeços com mais otimismo.
 
"O final do ano é apenas um marco, a vida continua! Sempre haverá um Natal para refletirmos novamente, e um Ano Novo para recomeçarmos, afinal, dezembro também é o mês da esperança", finaliza Erika.
 
(Entrevista concedida para o site idmed.terra.com.br em 19/12/2012